O Brasil e a Qualidade

Em 1995 escrevi este artigo para o Caderno de economia do Estado de São Paulo.

Estamos vivendo um dos momentos intensos da política, seria extremamente salutar se os futuros candidatos todos, independente de sua origem ou partido político, pensassem da mesma forma e claro que aqueles que fossem eleitos praticassem pelo menos parte sobre o que discorremos nestas poucas linhas, afinal são os nossos sonhos, anseios que levam a prática efetiva de mudanças, a quebra de paradigmas e por que não a melhoria contí­nua de nossa pátria, pois qualidade de vida é o que menos temos.

Passados quase 09 anos uma análise profunda nos levam às seguintes conclusões:

Continuamos fazendo parte do 3º mundo, pois a essência para que pudéssemos ocupar posição destacada no mundo (1o mundo) que tem nos programas de Competitividade industrial e Brasileiro de Qualidade e Produtividade elementos propulsores, mas que dependem obviamente da nossa população, a qual vem acordando aos poucos, já que investimentos em Educação e saúde ainda são balela neste nosso Brasil.

Como era e como é hoje:

1. Descrença total no que se refere a confiabilidade e prestígio dos produtos e serviços brasileiros nos mercados nacional e internacional.

Não podemos dizer que não evoluí­mos – exportamos mais do que exportávamos, nossos produtos tem uma aceitação maior, mas ainda somos grandes importadores, inclusive de produtos de baixíssima qualidade.

2. A abertura do paí­s para buscar a experiência dos países mais desenvolvidos, o que está se processando através do Programa de competitividade industrial e do PBQP.

Esta abertura é plena – o número de organizações que se voltaram para a busca da Excelência ou que pelo menos buscaram e obtiveram a certificação ISO (algo em torno de 9000 certificados de não mais que 4000 organizações) ainda é pequeno representamos em relação ao mundo 0,01% das empresas certificadas.

3. A criação de associações interessadas no assunto QUALIDADE.

Foram criadas algumas tais como o CERQ que infelizmente não alavancou, o ILAQ, o RAC, porém ainda são inexpressivas se comparadas por exemplo com a ASQ dos Estados Unidos, O IRQA na Inglaterra, A JUSE no Japão.

Além destes vale citar os esforços dos sites: www. qualiforum.com.br

www.ilaq.org.br e www.qualitypoint.com.br que tem visado divulgar ações e matérias em prol da Qualidade e produtividade.

4. A realização constante de atividades educacionais sob o patrocínio do governo e de instituições especializadas: conferências, cursos, seminários, assim como a divulgação cada vez mais crescente em revistas e jornais do país.

Pouco espaço é dado para este tipo de ação; Os jornalistas que podem dizer que são especialistas nestes campos da notícia podem ser contados nos dedos e o triste é que sobram dedos.

5. A criação de mecanismos legais destinados a reforçar e incentivar a prática de Qualidade, tais como, a Lei de Proteção ao consumidor, a nova versão das NBR/ISO 9000, o CB-25 da Qualidade através da ABNT, a nova regulamentação brasileira para a elaboração de normas técnicas através de associações de classe agilizando o processo; todos via PBQP.

Algumas novas ações individualizadas, e ou, setorizadas como por exemplo o PBQP-H para o setor da construção civil colocando a certificação como exigência para a obtenção de crédito junto a Caixa Econômica Federal;

Ações de exigência de Qualidade impondo a Certificação QS-9000 para os fornecedores de primeiro nível e de ISO-9000 para os fornecedores de segundo nível por algumas das montadoras do setor Automotivo;

Isto é algo que se tem mantido – mas que caminha a passos de tartaruga; Sem contar a situação financeira pela qual passa a ABNT, enquanto organizações privadas que poderiam mudar esta situação com apoio financeiro preferem fazê-lo, por exemplo, para uma escola de samba.

6. A criação da Fundação Prêmio Nacional da Qualidade aos moldes do Prêmio Deming no Japão e Malcon Baldridge nos USA.

Poucas são as organizações que tem participado desta iniciativa.

Outros prêmios foram lançados, tais como, o Prêmio Gaúcho da Qualidade, Prêmio Paulista, Prêmio Carioca, Prêmio ABES, etc…

7. O interesse e apoio do governo para o desenvolvimento da consciência nacional e aculturamento dos brasileiros para a Qualidade através do PBQP.

Nos últimos anos poucas foram as evidências em relação a isto.

8. O processo de privatização.

Sem dúvida todas as empresas que foram privatizadas e que eram não lucrativas deram a volta por cima.

9. A infra-estrutura portuária para importação e exportação.

Nada ou pouco se fez de concreto em relação a este item.

10. O processo de envolvimento efetivo de diversas instituições de alta representatividade nacional, na luta pela Qualidade, tais como as universidades, ministérios, federações de indústrias, sindicatos patronais e outros.

Não se pode evidenciar que isto tenha se tornado uma realidade, existe sim algumas ações unitárias, como por exemplo, a ABTCP ? Associação Brasileira técnica de Celulose e Papel.

Tal situação é no mínimo desanimadora, mas por outro lado nos trazem mais motivação para continuarmos acreditando que a mola propulsora estão lançada, mas, precisar? de constante lubrificação, para vencer mais este estado inercial, o que depende de não brasileiros políticos ou não, através do fomento ? Qualidade, tais como:

– A introdução da cadeira Qualidade no ensino de 1o e 2o grau.

– O lançamento de filmes e a criação de revistas infantis sobre o tema Qualidade.

– Um envolvimento e comprometimento da alta administração das organizações na implementação de sistemas de Gestão da Qualidade.

– A divulgação efetiva dos incentivos que foram criados para o desenvolvimento de profissionais da Qualidade.

Em nosso entendimento só vamos ter de fato uma mudança comportamental no país, quando realizarmos um trabalho de base nas estruturas de educação e saúde.

Qualidade é algo que se obtém através de raízes fortes e saudáveis; estas raízes são nossas crianças que poderão possibilitar uma mudança no Brasil de amanhã, independente daquilo que espera qualquer pessoa, ela deve ser alcançada degrau por degrau (cuidado especial deve ser dado aos primeiros degraus). Estes degraus devem ser escalados na vida diária, hoje, amanhã, depois de amanhã e assim por diante, portanto quando avisarmos alguém sobre seus erros, ele refletirá sobre os mesmos e desenvolver? sua conduta.

Isto tudo com certeza, levar-nos-á a incorporar em nossa cultura a valorização e o respeito à Qualidade. O que já foi conseguido em algumas organizações ao longo dos anos, fazendo com que o conceito da Qualidade excedesse ao simples atendimento de especificações técnicas dos serviços e ou produtos fabricados pelas mesmas, através de atitudes coerentes e favoráveis no ato de prestar ao cliente um serviço com Qualidade.

Os seres humanos tendem a se dirigir para onde lhes guia a sua mente. A nós cabe o uso desta mola propulsora, através do nosso engajamento e comprometimento.

É esta a nossa visão quanto ao aculturamento para a Qualidade que o Brasil precisa para atingir í­ndices de Qualidade e Produtividade compatíveis com o 1o mundo.

Maurício Luiz Szacher
Diretor da World Wide Consultoria

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